Festa Junina: tradição, cultura e educação infantil
- Vivian Guilherme
- 3 de jun.
- 7 min de leitura
As festas juninas são uma das manifestações culturais mais autênticas do Brasil. Celebradas com alegria em todo o país, especialmente nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, essas festas representam um rico mosaico de tradições que envolvem música, dança, culinária, trajes típicos e religiosidade popular. No ambiente escolar, as festas juninas também ganham espaço como ferramenta pedagógica, promovendo aprendizado lúdico e valorização cultural. Neste artigo você vai ler:

Qual a origem da Festa Junina?
A origem da Festa Junina remonta às festividades pagãs europeias em homenagem ao solstício de verão. Com o advento do cristianismo, essas celebrações foram incorporadas ao calendário religioso, passando a homenagear santos como São João Batista (24 de junho), Santo Antônio (13 de junho) e São Pedro (29 de junho). No Brasil, os colonizadores portugueses trouxeram essa tradição no século XVI, que ao longo do tempo foi se mesclando às culturas indígenas e africanas.
As fogueiras, por exemplo, têm raízes nas comemorações do nascimento de São João. Já os trajes típicos caipiras fazem alusão à população rural, predominante durante o Brasil colonial. Essa miscigenação resultou numa das festas mais emblemáticas do país. Hoje, a Festa Junina é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial de Natureza Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), desde 2011.
Qual a Festa Junina mais famosa do Brasil?
A Festa Junina de Campina Grande, na Paraíba, é considerada a maior do Brasil — e do mundo. Intitulada "O Maior São João do Mundo", ela atrai milhões de visitantes todos os anos. Em 2024, o evento recebeu cerca de 2,93 milhões de pessoas, movimentando aproximadamente R$ 600 milhões na economia local. Realizada no Parque do Povo, a festa tem duração de 30 dias e conta com mais de 500 atrações, entre shows musicais, quadrilhas, culinária regional, casamento coletivo e festivais de forró.
Outro destaque é o São João de Caruaru (PE), que disputa com Campina Grande o posto de maior festa junina do país. Caruaru apresenta um enfoque mais tradicional, com forte valorização das manifestações culturais nordestinas, como as comidas gigantes, os trios de forró pé de serra e as apresentações de grupos folclóricos.
Qual a importância da Festa Junina para a cultura brasileira?
A Festa Junina ajuda na preservação e valorização das tradições populares brasileiras. Ela promove o resgate da cultura rural, das crenças religiosas e das manifestações folclóricas, reforçando o sentimento de pertencimento das comunidades. A celebração também tem impacto social e econômico: movimenta setores como agricultura familiar, gastronomia, artesanato e turismo.
Além disso, a Festa Junina favorece o intercâmbio cultural entre diferentes regiões do Brasil, já que cada uma adapta a festa conforme suas próprias tradições. No Nordeste, por exemplo, o forró e as comidas à base de milho predominam, enquanto no Sudeste a festa assume um tom mais escolar e familiar.
Por que trabalhar a Festa Junina na educação?
Inserir a temática junina no contexto escolar é uma oportunidade para trabalhar múltiplas áreas do conhecimento. Além do aspecto lúdico, a festa serve como ponto de partida para desenvolver:
História: estudo das origens da festa e sua transformação ao longo do tempo.
Geografia: compreensão das diferenças culturais entre as regiões do Brasil.
Matemática: atividades com medidas (receitas), contagem (bandeirinhas), geometria (figuras nas decorações).
Português: produção de textos, leitura de cordéis, trava-línguas e quadrinhas.
Educação artística: construção de cenários, adereços e figurinos.
Educação física: ensaio e prática das danças típicas.
Essa abordagem interdisciplinar amplia a compreensão dos alunos sobre a importância da cultura popular e promove a integração da comunidade escolar.
Como organizar uma quadrilha para a Festa Junina da escola?
Organizar uma quadrilha requer planejamento, ensaios e envolvimento coletivo. Veja um passo a passo detalhado:
Escolha da música: selecione faixas tradicionais como "Olha pro Céu" ou "Pula a Fogueira". Use versões instrumentais para facilitar a marcação dos passos.
Criação do roteiro: defina a sequência de movimentos (balancê, anavantur, anarriê, túnel, passeio na roça, casamento caipira).
Formação dos pares: respeite a faixa etária e proporcione um ambiente inclusivo e divertido.
Ensaios regulares: inicie com ensaios semanais e intensifique próximo à data do evento.
Confecção de figurinos: incentive a reutilização de materiais e customização de roupas caipiras.
Ambientação: decore o local com bandeirinhas, balões, barracas e uma fogueira simbólica.
Passo a Passo da Dança de Quadrilha Junina
A quadrilha é uma das principais atrações das festas juninas e encanta crianças, jovens e adultos com seus movimentos coordenados, figurinos típicos e comandos bem-humorados. Inspirada nas danças de salão europeias do século XIX, especialmente as francesas, a quadrilha foi adaptada ao contexto rural brasileiro e ganhou características únicas, como o uso de expressões caipiras e elementos da vida no campo. Abaixo, explicamos detalhadamente os principais passos e comandos que compõem essa dança tradicional:
Termos e comandos básicos
Antes de conhecer a sequência da dança, é importante entender os principais comandos utilizados pelo marcador (a pessoa que orienta os dançarinos):
BALANCÊ (do francês balancer): Significa balançar o corpo no ritmo da música, sem sair do lugar. É usado como comando de transição e costuma ser repetido várias vezes ao longo da dança. Quando o comando é direcionado apenas para os cavalheiros, as damas permanecem no BALANCÊ, e vice-versa.
ANAVAN (en avant): Avançar em direção ao par, com leve balanço dos braços.
RETURNÊ (returner): Retornar à posição original.
TUR (tour): Dar uma volta com o par, girando para a direita. O cavalheiro segura a cintura da dama com a mão direita, enquanto ela apoia o braço esquerdo sobre o ombro dele.
Registro de uma das atividades juninas do projeto "Arte do Coração", promovido pelo Instituto Lumiarte
Estrutura da dança
A seguir, apresentamos a sequência completa da quadrilha junina tradicional:
Formação inicial Damas e cavalheiros formam duas fileiras, frente a frente, com aproximadamente 2,5 metros de distância. Cada cavalheiro está de frente para sua dama. Ao som da música, inicia-se com o BALANCÊ.
Cumprimento entre os pares
Cavalheiros cumprimentam damas: caminham em direção a suas damas e fazem uma mesura (reverência).
Damas cumprimentam cavalheiros: fazem o mesmo gesto, levantando delicadamente a barra da saia.
Troca de lados Damas e cavalheiros caminham até o centro e trocam de lugar, girando pela direita.
Marcas ao centro Os pares são divididos em dois grupos. As "primeiras marcas" vão ao centro, cumprimentam-se e retornam; depois, as "segundas marcas" repetem.
Grande passeio Os casais dão as mãos e passeiam em círculo, balançando os braços, no ritmo da música.
Troca de dama e cavalheiro Um momento divertido, no qual os pares se alternam e dançam com outros participantes, retornando ao par original ao final.
O túnel Casais formam um túnel com os braços e os outros passam por baixo, um a um, até que todos tenham participado.
Anavan tur Após girar com seu par, a dama segue para o cavalheiro seguinte, promovendo a interação entre todos.
Caminho da roça Os pares caminham em uma única fila, com passos cadenciados, simulando uma caminhada pelo campo.
"Olha a cobra!" e "É mentira!" Comandos clássicos e teatrais que promovem mudanças rápidas de direção, com humor.
Caracol e Desviar Os dançarinos formam um caracol humano e depois se desenrolam, voltando à formação em linha reta.
A grande roda Todos dão as mãos e formam uma roda, que gira para os lados conforme o comando. Pode haver divisões entre damas e cavalheiros.
Coroar damas e cavalheiros Um momento simbólico e bonito, no qual os pares se abraçam com os braços erguidos, como em uma coroação.
Duas rodas e roda final Damas e cavalheiros formam rodas separadas ou combinadas, movimentando-se em sincronia.
Despedida e galope final Ao comando de "despedida", os pares se alinham e saem do espaço em fila, acenando para o público. Em muitas regiões, a música continua e a pista é liberada para danças livres.
Atividades de Festa Junina para Educação Infantil
Na Educação Infantil, a Festa Junina pode ser trabalhada por meio de atividades sensoriais, motoras e simbólicas. Algumas sugestões:
Brincadeiras temáticas: pescaria com prendedores, argolas coloridas, corrida de milho.
Oficina de bandeirinhas: uso de papéis coloridos para criar as bandeiras.
Pintura com carimbo de milho: promove coordenação motora fina e exploração tátil.
Criação de personagens juninos com sucata: espantalhos e bonecos de palha.
Contação de histórias juninas: releitura de contos tradicionais, como "O Casamento da Dona Baratinha".
Músicas para tocar na Festa Junina
A trilha sonora é parte essencial da festa. Abaixo, uma seleção com músicas que agradam todas as idades.
Ranking das músicas mais tocadas no segmento de Festas Juninas nos últimos 10 anos no Brasil, segundo dados do Ecad.
Posição | Música | Autores |
1 | Festa na roça | Palmeira / Mario Zan |
2 | Olha pro céu | Gonzagão / José Fernandes de Carvalho |
3 | O sanfoneiro só tocava isso | Haroldo Lobo / Geraldo Medeiros |
4 | Asa branca | Gonzagão / Humberto Teixeira |
5 | Pagode russo | João Silva / Gonzagão |
6 | Eu só quero um xodó | Anastácia / Dominguinhos |
7 | O xote das meninas | Zé Dantas / Gonzagão |
8 | Esperando na janela | Targino Gondim / Raimundinho do Acordeón / Manuca Almeida |
9 | São Joäo na roca | Zé Dantas / Gonzagão |
10 | Fogo sem fuzil | Gonzagão / José Marcolino |
11 | Quadrilha brasileira | Gerson Filho / Jose Maria de Aguiar Filho |
12 | Frevo mulher | Zé Ramalho |
13 | Pula a fogueira | João Bastos Filho / Amor |
14 | Isso aqui ta bom demais | Dominguinhos / Nando Cordel |
15 | Quadrilha (instrumental) | Josias Damasceno de Almeida |
16 | Xote dos milagres | Tato |
17 | Antonio Pedro e João | Benedito Lacerda / Oswaldo Santiago |
18 | Rindo à toa | Tato |
19 | Xote da alegria | Tato |
20 | Marcando a quadrilha | Mario Zan |
Confira uma das versões de Welton Nadai para um dos clássicos caipiras:
Ideias de atividades de Festa Junina para escolas
Além das danças e comidas típicas, explore atividades interdisciplinares:
Oficina de culinária: preparo de bolo de milho, pamonha e curau com supervisão de adultos.
Mostra cultural junina: murais com pesquisas sobre festas típicas em diferentes estados.
Quiz junino: perguntas sobre tradições, músicas e costumes.
Correio elegante: mensagens entre os colegas estimulando escrita e afeto.
Teatro caipira: encenação do casamento matuto ou histórias populares.
Fogueira ecológica: montagem com papel, tecido e LED para representar a simbologia.
Essas ações integram alunos, famílias e professores, fortalecendo o vínculo escola-comunidade.
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